Mãe de um filho, graduada em Economia pela PUC-SP, com mestrado em Ciências Econômicas pela FGV-SP e pela Universidade Luigi Bocconi, de Milão, Itália. Trabalhou na Rosemberg Consultoria e na Phillip Morris (Brasil), e na Banca Commerciale (Itália). Além de Presidente da Damha Agronegócios, é membro conselheira tanto do Instituto Millenium como do Conselho do Agronegócio na FIESP. De 2014 a 2017 presidiu a Câmara do Boi de Futuros na BM&F e também atuou como diretora de Pecuária de Corte na Sociedade Rural Brasileira.
A sua chegada à presidência da Damha Agronegócios revolucionou a empresa, de que forma tal revolução impactou os resultados e o posicionamento estratégico?
A maior mudança foi nos resultados constantes por meio de um portfólio diversificado de ativos. Focamos em três pilares: performance Yield, transformação da terra e sustentabilidade. Assim, entre 2002 e 2005, transferimos a pecuária de Entrevista Glocal pasto para o confinamento. Já naqueles anos nossa produção era rastreada e com origem, o que facilitou sermos os primeiros a exportar para a comunidade europeia, que exigia o Sisbov (identificação individual de bovinos). Chegamos a abater em 5 anos 400 mil animais. Quanto à irrigação, também diversificamos o portfólio com ativos de baixa correlação relativa: soja, milho, feijão, tomate, sorgo e cana-de-açúcar. Isso permite que a gestão se desdobre em vários níveis, tais como: risco climático, custo saca por hectare, preços com análises de mercado para hedge de preços futuros.
E como a terra em si é vista nesse modelo de gestão?
A terra também faz parte do portfólio que mencionei, sendo avaliada através do retorno patrimonial sobre o capital investido ROE (Return on Equity). O Brasil possui taxas de juros historicamente altas, portanto, operar com irrigação, além de nos dar previsibilidade de caixa, também auxilia a maximizar a produção por hectare, levando a 2,4 safras ao ano em nossas terras.
Por essência, o Agro tem sua produção “a céu aberto”. Como minimizar as variáveis fora do controle do produtor e trazer mais estabilidade para o setor?
Fazemos um planejamento de 2 e de 5 anos para mitigar riscos e maximizar retorno. Nosso foco não é nos preços dos ativos, mas na margem que o ativo está operando em determinado contexto. Analisamos os dados macro e microeconômicos ligados ao Agro, e gerenciamos de perto as metas de custos e produtividade. Instrumentos coletivos, como o Plano Safra e o Seguro Rural, se idealizados a longo prazo trariam mais eficiência e produtividade ao campo.
Falando em produtividade, o Ipea afirma que a produtividade da agricultura brasileira cresceu 400% entre 1975 e 2020. Até que ponto é responsabilidade da Embrapa e do Estado, e até que ponto da iniciativa privada?
Todos são responsáveis. O Estado incentivou com políticas públicas em relação aos tributos, juros equalizados e fomento de instituições de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, como a própria Embrapa. Esta, por sua vez, atua em sinergia com o produtor, transferindo tais tecnologias. Universidades e cooperativas também são importantíssimas, em especial no apoio aos médios e pequenos produtores. Essa união de fatores repercutiu no aumento de receita total do Agro, que saiu em torno de R$ 600 bilhões em 2020 para R$ 1 trilhão dois anos depois, representando quase 50% do total das exportações brasileiras em 2023 e contribuindo, inclusive, para segurar o Dólar.
Sobre a produtividade na Damha Agronegócios, como foi esse avanço até hoje e como a empresa se prepara para a permanente melhoria
Produtividade é o drive, pois não controlamos os preços praticados no mercado. Cada pivot ou gleba possui uma carteira de identidade com dados históricos, com a característica do solo, índice pluviométrico e temperatura de cada safra. A análise desses dados nos ajuda a selecionar as tecnologias mais adequadas para a melhor produção para aquele hectare, é a gestão de precisão. Utilizamos tanto a gestão como a agricultura de superprecisão, com produtos inovadores que atuam diretamente na planta, trazendo um rendimento até 10% maior que o comparativo. E olhando para o futuro, buscamos tecnologias disruptivas e investimos em um fundo focado no assunto, o Yield Lab.
Como você projeta o futuro da Damha Agronegócios e o futuro do Agro brasileiro no cenário global?
A missão da Damha é traduzir o Agro de dentro da porteira para o mercado corporativo e o mercado de capitais, proporcionando bom retorno no médio e longo prazo. O Agro é para investidor qualificado e de longo prazo, um ativo dolarizado que ajuda a diversificar a carteira. Estamos montando com a CERES (consultoria) um fundo “dentro da porteira” para o investidor que quer aplicar no Agro real, na produção lastreada na terra e nos produtos. Quanto ao Brasil, os resultados recentes do Agro apontam para um futuro promissor, e a comunicação é vital. Com comunicação adequada, o Brasil se beneficiará tanto por ser um exportador de segurança alimentar, como por criar valor em seus produtos.
Por gentileza, fique à vontade para abordar alguma nuance que queira destacar, trazendo sua mensagem para os que hoje iniciam suas jornadas no Agro.
Há inúmeras maneiras de se inserir no Agro e este precisa de mais investidores, incentivadores e mão de obra qualificada. Existe um mundo de oportunidades dentro da porteira, como a produção agrícola, pecuária e florestal. Elas também existem fora da porteira, através de fintechs, do sistema financeiro, educação e comunicação. O Brasil, através do Agro, se transformou em um player mundial e agora podemos colocar nas prateleiras do mundo um produto Made in Brazil com critérios de origem verde. Qualquer chefe de Estado que não estiver alinhado com o Agro perderá grande oportunidade de fomento de renda para todos.
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