Eike Batista: “Grupo grande como nós éramos só quebra de dentro para fora”
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Eike Batista é um brasileiro que, quando os pais se mudaram para a Europa, fez Ginásio e dois anos de faculdade de Engenharia Metalúrgica. Em seguida voltou para o Brasil, quando começou a atuar como trader de ouro. Depois, construiu 12 minas de ouro e minério de ferro no Brasil, nos EUA, no Canadá e no Chile. Então, criou um grupo industrial na área de petróleo, infraestrutura e geração de energia, desafiando os monopólios.
Como você depreende, em sentido lato, o empreender e o viver na atual realidade nacional?
O Brasil do mercado interno é muito complicado, inflação, juros altos e etc. Já o Brasil que ganha em dólar é um Brasil que nunca parou de crescer, seja no petróleo ou no Agro. Olhando para o Agro, o que o Brasil faz, o resto do mundo não faz. E esse setor pode ser muito aprimorado, com infraestrutura, por exemplo. A infraestrutura no Brasil é muito ruim e nós gostamos de investir nisso.
Você quer falar sobre o ambiente político no Brasil e no mundo?
Sim. O Brasil deve ficar neutro e então aproveitar essa disputa de quem vai ser o número 1 do mundo, entre os EUA e a China. E quanto à Europa também. Que o Brasil se preserve neutro nas Nações Unidas. É aproveitar e fazer tudo aquilo que a gente tem aptidão para fazer mais barato. Nada disso de criar reserva de mercado ou subsídios. Isso nunca dura. Tem que trazer o que há de melhor no mundo.
Todos possuem “turning points” na vida, o que forjou o Eike Batista de hoje?
A educação. Viajar com meus pais me abriu muito os horizontes. A possibilidade de conversar com investidores em alemão, francês e inglês. Também disciplina, que é um pilar. Tive um “bullying da natureza”, uma asma horrível, que só me curei com disciplina. Minha mãe me jogava na piscina gelada e me curei. Depois, a oratória. Aprendi a falar sempre com muito conhecimento, nunca chutar as coisas, o Elon Musk também não suporta isso. Quando as pessoas falam comigo de cubagem e jazida sem saber, eu fico irritado. O que me forjou também foi como eu sobrevivi à minha primeira mina de ouro. Ela dava 90% de margem operacional, mas para ela produzir eu passei por vários desafios. Todo mundo pegava malária, então de 30 em 30 dias trocava metade das pessoas.
Você mencionou o Elon Musk, como é sua relação com ele?
O Elon Musk não é monofásico. Ele é multifásico, como eu sou, mas nem todos são. Ele explodiu três foguetes. Ele estava na minha casa em 2008 quando me contou que se o próximo foguete, o quarto, não voasse, ele fechava a SpaceX. Ele, em seguida, decidiu botar os últimos USD 30 milhões dele, metade na SpaceX e metade na Tesla, que também estava com problemas. Obviamente, risco alto, mas com ganhos excepcionais se tudo ficasse em pé. É isso que um empresário tem que ter. Mas vamos lá, ele partiu da premissa que é fazer algo 10 vezes melhor do que o atual. Então, com esse banco de dados você arrisca. O Elon Musk provoca que o cara estresse o modelo constantemente, testando coisas novas, materiais novos, e ciência e tecnologia é isso.
O que mais te incomoda da tua história, que você se sente injustiçado?
Hoje nada. Porque os meus projetos, que eu sempre disse que teriam potencial de tornar legados, já são legados e o mercado todo sabe. Então tudo o que a imprensa falava, que eram projetos de PowerPoint, tiveram que engolir. Empresas gigantes, como a Eneva hoje, era a minha geradora de energia MPX. Os dois portos, o Superporto do Açu, que pertence ao grupo americano e a Mubadala. A mineradora. Enfim, os legados estão aí, estão rodando e gerando caixa, e ainda empregam 20 mil pessoas.
Em retrospecto, quais foram os erros que hoje você não mais cometeria?
Eu tenho que ter no meu time uma psicóloga e uma vidente, e assim identificar seres humanos descompensados, com problemas psicológicos. Porque eu sofri uma crise enorme e não foram influências externas. Um grupo grande como nós éramos só quebra de dentro para fora. Dezenas de executivos aqui funcionaram de modo corrosivo e destrutivo. Então, eu estou me aperfeiçoando para escolher pessoas melhores e ter mais sistemas de controle. Apesar de na época já estarmos no Novo Mercado, ocorreu o que ocorreu. Exatamente o que aconteceu com as Americanas agora. Lá dentro tinha umas 10 pessoas enganando o Mercado, talvez por mais de uma década. Comigo, foram três, quatro anos. E isso já é suficiente para criar um buraco grande.
Até aqui, os temas abordados foram do ontem e do hoje. Na próxima edição, na segunda parte da sua entrevista, os temas serão o hoje e o futuro. Então, iniciando essa transição, no contexto dos negócios globais, quais aspectos são mais desafiadores neste 24º ano do 3º milênio?
O mundo passou por uma revolução digital nos últimos 20 anos e quem não digitalizou não existe mais, tanto que as empresas mais valiosas do mundo são as Big Techs, e agora será a Inteligência Artificial (IA). Com o advento da IA, essa transformação será levada para outro padrão exponencial nos próximos 20 anos. A IA vai virar a maior parte das indústrias de cabeça pra baixo. Tudo ficará mais rápido e mais barato, a IA trará abundância em tudo. Enfim, ciência e tecnologia dominarão os próximos 20 anos. Quem não estiver gastando de 10 a 20% do seu EBITDA em pesquisa vai morrer.
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